sexta-feira, 6 de março de 2009

MELLOTRON... um planeta realmente fantástico!


O Mellotron foi dos primeiros “samplers” do mundo. É um teclado polifónico electromecânico que funciona através de fitas magnéticas áudio pré-gravadas (com um tempo de reprodução de oito segundos cada). Imagine-se um aparelho com dezenas e dezenas de cabeças de leitura! Era assim mesmo… Gravava-se um Dó# para a tecla Dó# e assim sucessivamente até se esgotar o âmbito do teclado ou instrumento “samplado”. Porém o utilizador não tinha de se preocupar com isso, pois todos os sons vinham preparados a tocar e o uso não oferecia qualquer dificuldade!

Os primeiros teclados a trabalhar neste sistema foram vendidos por Harry Chamberlin desde1948 e até aos anos setenta.

Tudo realmente arranca quando Bill Fransen levou dois desses teclados para a Inglaterra em 1962. Duma confusa união resulta uma companhia chamada Mellotronics que fabricou os primeiros Mellotrons.

Os primeiros (MK I e MK II) tinham dois teclados ao lado um do outro (o direito tinha os sons de solo: cordas, flautas e metais, o teclado esquerdo tinha faixas rítmicas pré-gravadas em vários estilos musicais).

Estes teclados foram criados para uso doméstico, logo não foram concebidos para serem portáteis. Só os modelos posteriores como o M300, M400 e o MKV permitiam mobilidade.

Na década de setenta, o Mellotron M400 teve um grande impacto no rock. Venderam-se 1800 unidades e tornou-se no som de marca de várias bandas de rock progressivo.

Os “Mellotrones” tinham som de cordas e sons de orquestra mas no entanto o modelo M400 já permitia que os bancos de registo (em fita) fossem trocados por outros (percussão, efeitos sonoros, etc.).

Este tipo de teclados distingue-se pelo som típico da fita magnética (um pouco como as antigas câmaras de eco) embora o resultado aqui seja uma agradável diferença no som da nota cada vez que é tocada. As notas, tocadas em conjunto, interagem entre si dando um som mais cheio.

Com um Mellotron as bandas podiam tocar as cordas, metais e corais que até aí eram impossíveis de recriar ao vivo.

Um dos factores que levou a um injusto desuso foi o facto de se achar que era um instrumento difícil de afinar. As fitas ficavam presas por vezes, quando houvesse problemas na velocidade da fita haveria desafinação, mas quem ainda trabalha com estas raridades rejeita tais calúnias.

O sítio oficial da Mellotron mostra que o preço de um desses instrumentos custava $5.200.00 em 1973 (+/- $25.000.00 agora).

Hoje não se vêm “Mellotrones” originais à venda em todo o lado. Nos anos noventa uma empresa produziu modelos baseados no M400 usando discos com “wav” gravados de cada nota de um original (MK VI).

Neste momento existem várias réplicas digitais (na versão de teclado ou VST) com um som muito convincente (uma vez que cada “sample” é gravado dum Mellotron antigo) sem os inconvenientes técnicos e logísticos que antes havia.

Lembro-me do tempo em que descobri o som do Mellotron… as cordas lembravam as orquestras ortodoxas alemãs dos anos 40, as flautas faziam-me viajar do sofá para o campo e de um modo geral aqueles sons faziam lembrar tempos idos…

Os temas gravados com estes sons são aos milhares e por isso deixo aqui alguns dos mais icónicos:


Beatles: Strawberry Fields Forever (1966)

The Moody Blues: Nights in White Satin (1967)

Pink Floyd: Atom heart mother (1970)

Yes: Close to the edge (1972)

Led Zeppelin: Rain Song (1973)

JOSÉ CID: Mellotron, o planeta fantástico (1978)

Radiohead: Exit Music (1997)

Porcupine Tree: Mellotron Scratch (2005)

Opeth: Porcelain Heart (2008)


Para quem ainda não sabe: José Cid (compositor e intérprete português) foi um utilizador de Mellotron com renome internacional. “Como Porquê Cantamos Pessoas Vivas” – 1975, Vida (Sons do Quotidiano) – 1976 e 10.000 Anos Depois Entre Vénus e Marte – 1978 são obras ímpares da música portuguesa e mundial. Discos obrigatórios para amantes do teclado MELLOTRON.