sexta-feira, 3 de abril de 2009

José Cid - Um homem vindo do Espaço


José Albano Salter Cid de Ferreira Tavares (José Cid) nasceu em Chamusca no ano 1942. O seu amor pela música leva-o a lutar pelo sonho, contra os pais, contra um regime político ditatorial… chegou inclusivamente a frequentar o curso de Direito na Universidade de Coimbra, mas desistiu para seguir a vida de músico.

Passou por alguns projectos, mas é no Quarteto 1111 que nasce o artista em si, cantando e tocando teclado.

O grande êxito “A lenda de El-Rei D. Sebastião” catapultou o nome José Cid para outros caminhos, inclusivamente futuras participações no Festival RTP da Canção.

O Quarteto 1111 teve problemas com a censura. Conta-se que os discos foram queimados e proibidos… Havia uma história em que se dizia que a P.I.D.E. avisou o José Cid para não cantar a frase “fugiu de Alcácer Quibir”, tendo que substituir por “depois de Alcácer Quibir”. José aceitou! A música começa e Cid canta: “FUGIU…”! Nem o regime o domava!

No ano de 1974, já depois da Revolução dos cravos, o Quarteto 1111 lança um último trabalho. Note-se que na capa lemos: “José Cid & Quarteto 1111”. A banda terminaria ali o seu ciclo. “Quando, Onde, Porquê, Cantamos pessoas vivas” é o primeiro trabalho de rock progressivo do músico, marcada por um início notável de Mellotron. Vale a pena lembrar que este trabalho é chamado “obra ensaio”, uma vez que é uma gravação de um ensaio gravada por pistas.

José Cid nunca parava: lá ia participando nos festivais e chegou mesmo a receber um prémio de composição notável em Tóquio.

Em 1977 gravou o EP “Vida (sons do quotidiano). É um álbum de conceito (rock progressivo) que aborda a vida desde o nascimento até à morte. Há quem diga que o acidente de viação (que lhe retirou a visão de um dos olhos) pode ter sido a inspiração para esta obra. No final da música, coincidência ou não, ouve-se um acidente de carro. Foram usados os seguintes teclados: Piano, Mellotron, Moog e um String synth (provavelmente um ARP Solina).

No ano seguinte lançou o álbum 10,000 anos depois entre Vénus e Marte: o melhor trabalho de toda a sua carreira. O conceito centra-se no facto da poluição ter obrigado a humanidade a ir viver para outro planeta. 10.000 Anos depois voltam à Terra para a povoar de novo. É incrível como o seu trabalho mais reconhecido no mundo, venha a ser a razão que o leva a compor para vender. A editora Orfeu achou que o álbum não era comercial, complicando todo o processo até ao ponto em que o músico preferiu abdicar dos direitos de autor para lançar a sua melhor obra! Como se não bastasse… as vendas foram mesmo um fracasso! Vejamos uma opinião mundial: “The 10,000 Anos... album is considered by Billboard magazine to be in the top 100 progressive albums, and by many, to be one of the Mellotron masterpieces. Cid's style on the record is very similar to the French take on symphonic rock with lots of string synths, Mellotron and a very simple melodic style. The guitar work works well with the keyboards. Lyrics are sung in native Portuguese. Most of the songs, influenced by a sort of mix combining The Moody Blues and Pink Floyd psychedelia (...)”.

Mais uma vez os seus teclados marcaram o som! O Mellotron e José Cid são sinónimos mundialmente pelo seu uso neste disco. Solos de Moog, os coros, os efeitos e os harpejos com eco, levam o ouvinte a uma viagem fantástica entre Vénus e Marte.

Depois desta viagem (que resulta num desvio brutal) Cid larga o rock progressivo definitivamente! Ao longo dos anos vende muitos sucessos comerciais, mas saliente-se que este homem sabe compor! O “mau” de José Cid é superior ao melhor de muitos… Estudem as funções tonais dos seus sucessos e tirem as vossas conclusões!


Um dia José Cid posou nu para uma revista de acontecimentos sociais, tapando o seu “órgão” com um dos seus discos de ouro! Não pensem que ele fez isso por narcisismo!

Na altura as rádios portuguesas só davam valor à música estrangeira (e hoje não?) desprezando os intérpretes portugueses. Cid, como forma de protesto, pega num ícone do seu valor e coloca-o em local estratégico para criar polémica! Conseguiu: as rádios são hoje obrigadas por lei a passar uma boa percentagem de música portuguesa!

Acredito que a frustração corra no sangue deste músico: um homem capaz, dotado de uma capacidade de composição e voz fora do comum que se vê obrigado a fazer música inferior e a viver para assistir à sua própria queda.

Pegando nas próprias palavras de José Cid: "Se Elton John tivesse nascido na Chamusca, não teria tido tanto êxito como eu." - In Pública, 2003.

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